domingo, 2 de junho de 2013

LABIRINTO

Fotografia de Cínthia Casagrande (BH)





Eu caminho no meio do povo
As calçadas repletas de gente
Gente que vai
Gente que vem
Gente que olha
Que pára
Que passa
Gente sem graça
Gente assim
Cabelos compridos
Cabeças raspadas
(skinheads)
Cabelos coloridos
Brincos em orelhas
Narizes
Pessoas assim
Pessoas tristes
Felizes
Sinal verde
Sinal vermelho
Siga
Pare
STOP
A moça do outdoor sorri pra mim
Placas luminosas
Anúncios tentadores
Beba isto
Coma aquilo
Fume
Símbolos de uma geração pichadora rabiscados nos muros
Grades que protegem casas
E separam seus donos dos demais mortais
Eu me fundo no povo
É tanta gente
Eu me confundo
Stop
Don’t walk
Walk
É gente que vai
Gente que vem
É tanta gente que eu nem sei
E a moça do outdoor insiste em sorrir pra mim
O que será que se passa naquela mente interiorana aqui nas ruas da Capital?
E a moça do outdoor insiste em sorrir pra mim
Será que dá tempo para um café expresso
Antes do Expresso 170 passar repleto de gente?
Não sei
Acho que não sei viver assim
Eu me fundo no povo
É tanta gente
Eu me confundo de novo
Por que aquele sujeito me olha esquisito no ônibus?
Eu não sei
A moça do outdoor tinha um sorriso tão bonito
“Eu sou apenas um rapaz latino-americano”
Diz a canção que ouço
Vinda não sei de onde
E
Que me faz lembrar
De tudo o que sou
E do muito que ainda falta pra conquistar
Aqui no meio do povo
Não sei
Acho que não sei viver assim
Acho que me perdi
Vou chorar
Aqui no meio do povo
São tantas imagens refletidas nas vitrines
Sou eu a passar
Diante do olhar triste
Do tetraplégico que vende bilhetes de loteria
Ah!
Como seria bom se comprasse um premiado
São as prostitutas da Rua 28
Sou eu
Feito cão vira-lata
Sem saber direito aonde ir
É gente que vai
Gente que vem
É tanta gente que eu nem sei
É a saudade de casa a apertar
(e pensar que deixei minha mãe chorando no portão)
É a fumaça negra dos canos de descarga suspensa no ar
É gente que vai
Gente que vem
É tanta gente que eu nem sei
Não sei
Acho que não sei viver assim
Acho que me perdi
Vou chorar de novo
Aqui no meio do povo
Vou chorar de novo
Aqui no meio do povo
Vou ligar amanhã bem cedo
Vou avisar minha mãe que estou voltando
Que estou indo pra casa
Vou dizer que depois de tantas partidas
Tantas noites mal dormidas
Seu filho está regressando
Cansado de sofrer
Cansado de chorar em bancos de bonde
Cansado de chorar no meio do povo
Cansado de procurar aqui nas ruas desta cidade grande
O que tem aí de sobra
Mãe
E a gente nem sabe
FELICIDADE

SANTA CRUZ DO SUL, RS, 1994.



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